Outras nádegas

 

sábado, julho 08, 2006

Tudo solto...

"Porque homem é sempre bonito" mesmo que gordo, mesmo que use roupas surradas ou tenha um tremendo mal gosto, mesmo que chato ou machista. Homem é sempre bonito. Tenho vontade de ficar repetindo, repetindo, repetindo. Poucas vezes li frases tão bonitas. Essa é uma linda frase. Consigo acreditar nela com todas as minhas forças. Cada palavra é sincera e verdadeira. Homem é sempre bonito. E eu também acho lindo homem que diz amor com toda a naturalidade. Daqueles que só em dizer "oi amor" cresce aquele quentinho por dentro. Como aquela também "ele me diz cada coisa incrível de boa". Frase aconchegante. Tenho vontade de falar pra alguém, por isso escrevo aqui. Queria que fosse uma marca pessoal. Você mesmo não conhece uma daquelas pessoas em que numa reunião quando ela abre aquele sorriso todos os amigos íntimos já sabem, "ela vai dizer aquilo", não tem? Aposto que tem. Pode discordar. Todos podem. Não importa. É a preferida. Na minha cabeça discordam sempre. Nas férias brinco de discordar. Chego em casa depois do trabalho, tomo um banho. Não é um banho longo. Já passou o tempo em que um poeta viveria isso pra contar. Agora nem viver nem contar. Olha o mal exemplo. A água do mundo vai acabar. Sem o que é poético, mas o que é real. Será que daqui pra frente as poesias serão sempre moralistas? Não me deixe dar importância a esses detalhes, pode ficar longo demais. Como quando o mundo não parece material. Já teve essa sensação? É quando tenho medo da morte ou simplesmente penso na morte. Nessas horas quanto mais eu penso mais real e natural se torna a possibilidade de existir céu e inferno. Fico deitada na cama em posição fetal e sinto que qualquer coisa que eu tocar será um simples jogo de imagem ou ilusão. Mas aí eu me acalmo pensando que essa sensação faz parte do sonho que estou vivendo. Nunca teve essa sensação? A vida aliada a céu e inferno tem sentido nesses momentos, de outro modo é imaterial e sem sentido. Nesse mundo não somos marionetes de ninguém, naquele sim. Ah claro, então o sentido é esse, temos de ser manipulados. Mas aí me surge a história do livre arbítrio e tudo se mistura, se torna confuso, embola e aí volta tudo ao normal. Chego a dar um tapinha na minha testa e me chamo de bobinha. Ouso tocar em algo e me entusiasmo e toco o quarto inteiro, todas as coisas e me toco e sorrio, sorrio muito. Numa questão de minutos ou horas, não sei, a vida perde e toma sentido, o céu existe e deixa de existir, as coisas se desintegram e voltam à sua forma de sempre. É lindo e engraçado. Queria tanto falar com você isso tudo. Assim de pertinho. Um incenso aceso e você fumando seu cigarro distraído e rindo, e rindo de mim. Mas estava falando de discordar... Eu tomo meu banho e não faço nada de importante. Antes de me vestir eu deito e começo minha longa conferência, com uma platéia enorme e atenta. Estou linda, deslumbrante. Minha roupa não é nem de longe impessoal, pelo contrário, sou inteligente e sexy, todos me veneram, me admiram, me louvam. Nessa conferência contesto tudo e todos. Quebro tabus, me meto em filosofia, em arte, em política. Minha platéia se sente agradecida por abrir tão facilmente seus olhos. Ninguém foge a minha perspicácia. Ás vezes um ou outro se levanta para um desafio, porque antes de mais nada minhas conferências são ultra democratas. Eles se levantam e se sentam convencidos de que tudo é muito simples, minha teoria é aceitável e útil. Se Borges achava que depois de Platão tudo foi reeditado eu desbanco os dois. Eu sou linda, sedutora e convincente. Mudo de assunto assim, num estalar de dedos. E sabe como se pontua minhas conferências? Como se pontua o pensamento. Sem ponto final, excessos de reticências e vírgulas, nada de letras maiúsculas, gritadas e grosseiras. O fim da conferência na verdade é uma pausa, o tempo de um cigarro, um refresco, um sono. O tempo de viver um pouquinho. Mas minha platéia continua lá, gritando meu nome, agradecida. E eu adoro pensar...


link | posted by Simy at 12:55 PM |


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