Outras nádegas

 

quarta-feira, julho 19, 2006

Eu juro, juro por deus e por tudo que você quiser que eu tento. Eu tento muito, me esforço um monte. Pra me interessar por outras coisas, tento pensar em outros assuntos, em outros lugares, em outras pessoas. Tento pensar em erros, em acertos, nos problemas do mundo, do meu vizinho e até da doida da minha colega de trabalho. Eu sento na cama, abraço minhas pernas, descanso minha cabeça nos meus joelhos, fecho os olhos e forço minha cabeça a pensar em algo que realmente me dê impulso, algo que seja realmente importante, algo relevante, que todos queiram saber, que queiram ler, que seja pertinente e faça diferença no meio desse monte de coisa besta que todos batem palmas e eu não consigo perceber. Deve ser algum detalhe, uma vírgula, um verbo, tem alguma coisa ali e eu não percebo. Ando tão agoniada. Feliz, mas impaciente, em rebuliço, estranha, alheia. Não sei. Eu só consigo pensar naquela pessoa e em mim. Não tem nada acontecendo mas parece que cresce, o sentimento se torna um gigante. Pra mim foi sempre igual. Parece que foi sempre assim, que foi sempre grande, que sempre esteve aqui. Eu sei que não era assim, que antes era tudo leve e eu lembro também que eu conseguia pensar em outras coisas que não seja isso, que não seja ele. Eu leio os e-mails antigos, relembro telefonemas, contato, pele. Eu não me esqueço, por exemplo, do primeiro olhar. Parecia uma cena, um telão enorme com um astro me cativando, me adorando como se eu fosse a protagonista, a estrela do baile. E o beijo foi como se um monte de outras beldades tivesse disputado comigo esse momento. Muitos testes mal feitos, tentativas inúteis e eu soberana, sem esforço nenhum ganhei. Parecia mesmo um filme, um conto dos melhores. Se eu te contasse como foi você iria babar e desejar estar no meu lugar. E nesse meio, nessa quantidade enorme de lembranças tento voltar nas matérias da faculdade, tento ler os clássicos, os gigantes da área que eu escolhi, tento me interessar pelas notícias econômicas, achar os professores realmente bons, tento sugar alguma coisa deles, mas nada. Eu acho tudo idiota, chato, monótono, igual. Aí eu começo a bater o queixo nos meus joelhos num ritmo lento. Mas eu só penso. Naquilo. Naquele. Nem sei. Eu deito com a cabeça virada para o travesseiro e balanço rápido de um lado para o outro até não conseguir respirar e ter que me virar e encher meus pulmões de oxigênio. Dói tanto, tanto, você não imagina. A saudade sabe. E às vezes dá muita raiva também. A maioria das pessoas esmaga dentro delas aquela parte que faz a vida se tornar uma fantasia. Acho que essa parte cresceu demais em mim. Por exemplo, paro, assim de repente e penso qual o motivo de eu gostar tanto de advérbios. Você não me conhece, mas saberia que falo a verdade. Pessoas que falam muito dessas palavras são chatas e repetitivas. O que eu mais falo é extremamente. Extremamente isso, extremamente aquilo. Fico enjoada de mim mesma quando não consigo parar. Você não sabe mas se te conheci um dia fiquei repetindo na minha cabeça, não fale, não fale, não fale. Isso me cansa tanto, me deixa tão ocupada enquanto tento manter um assunto interessante, buscar coisas que ouvi no rádio, mostrar que sou uma pessoa antenada, politizada, sensata e bela. Tento falar baixinho, mas é tão difícil porque se não sou interessante tenho que gritar pra você me ouvir no meio de tanta gente "legal". Eu estou tentando com todas as minhas forças chegar ao presente, passar por tudo isso e perceber com alivio que agora é hoje e que só vou pensar no que tenho pra viver, aí talvez consiga pensar amanhã.


link | posted by Simy at 1:01 PM |


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