Outras nádegas

 

sexta-feira, agosto 11, 2006

Cores imagens, cores imagens, cores imagens, cores
Originais
As flores
Demais
As cores
E mais amores
Não me ensina a morrer
Que eu não quero
Há diferença abstinente


Te juro que estou numa tremenda confusão. É assim, cheio de cores e me dá sempre muito medo quando aparece o preto, assim sozinho. Eu sei quando ele vem mas não tento evitar, as vezes até gosto. E tem também as transparentes que são muito chatas e me deixam um tanto atrapalhada e até triste, igualzinho o preto faz. É que eu preciso me esforçar muito pra perceber qual o pensamento elas trazem pra mim e você não sabe mas isso me cansa um bocado aí eu tento parar quando sinto a aguinha brotar nas axilas. E tem mais, as vezes eu estou andando na rua e eu me vejo a dez passos de ser esfaqueada no ventre ou pressinto uma bala de revólver que chegará e abrirá um buraco na minha barriga onde você poderá enfiar um dedo inteiro. Estou te dizendo todas essas coisas esperando que você não me suponha louca ou suicida, são só luzinhas que acendem de repente e me faz me perder por um segundo. Eu vejo a cena inteira, tudo em uma tela enorme, gigante. É que eu estou tentando chegar ao presente de mim e isso é muito difícil. Por exemplo ando trocando as manias. A mania de fazer bocas por onde ia e em todas as oportunidades de fotografia. Fazia isso porque tinha tesão pelos meus próprios lábios. Mas não adianta, eu logo mudo, agora é meu ventre que me persegue e ele é assim tão bonito, tão lisinho, eu quase vejo o desenho de uma flor ao me olhar no espelho. E outro dia eu estava esperando o ônibus, e estava bem de noite e escuro, voltava da faculdade e tirei um cigarro da bolsa enquanto esperava a condução chegar. Eu comecei a fumar e logo vi que não queria nada então fiquei pensando naquela sensação de sair de órbita quando se pensa em algo assustador ou bom demais. Nessa hora a cor transparente logo vem, estou te dizendo, são sempre as transparentes. E você sai tanto dali, mergulha tão fundo, se bate por dentro, seus olhos não vêem, seu corpo quase pára de viver e o que você segura de repente escorrega e te assusta. Já sentiu dessa? E aí você volta. Nesse momento eu me esforçava em achar a cor transparente, forçava os olhos tentando não piscar, queria sair de órbita, não pensar em nada ou naquilo. O cigarro na mão, queria que ele caísse sem querer, que eu parasse de sentir a textura do papel que envolve o fumo tocar minha pele entre os dedos, queria perder o tato e me assustar quando ele já estivesse no chão e aí voltar. Você está me entendo? Está pelo menos me ouvindo? Logo vi um jovem de terno se aproximar. Mentira, eu não vi, já estava quase mergulhando na cor. Ele me deu um papelinho com uma propaganda de uma certa igreja e disse bem rápido “ele te liberta jesus te ama” e saiu como se fosse um sonho. Mas aí eu voltei. Te juro que por um segundo eu cheguei na cor e te provo porque vi o cigarro no chão. Depois de alguns segundos de estupor voltei de verdade, e entendi a frase e ele já estava a cinco passos de mim. Levantei, estendi a mão num gesto de gente que ainda tem o que dizer “ei, eu não sou suicida não, nem depressiva eu nem queria fumar esse cigarro. Ei tá me ouvindo? Eu só queria chegar na cor, só isso. Te juro que não sou assim, eu juro...” Mas eu não disse nada, eu só sorri. Mamãe diz que quando percebo esses detalhes eu estou mesmo numa tremenda confusão. Me diz Simy, diga onde ela está, qual é o fato que te fez ver esses detalhes que acontecem com você? Mamãe sempre complica as coisas e fica me perguntando coisas que eu não sei dizer. Mas acho que vou ficar bem prática nisso e perceber a sensação de pisar em um musgo com os pés descalços e logo vou te descrever tudo que eu sinto lá em cima, no topo do meu cérebro.


link | posted by Simy at 6:52 PM |


8 Comments:

Blogger anouska commented at agosto 14, 2006 7:47 AM~  

simy, voltei. você teria adorado a FLIP. uma efervescência só, todo mundo respirando literatura. de quem é essa música aí em cima mesmo? beijundas

Anonymous Anônimo commented at agosto 14, 2006 8:19 AM~  

Gozado como uma pessoa tão pequenininha consegue ter a cabeça nas nuvens tão fácil... :-)

Anonymous Anônimo commented at agosto 14, 2006 11:14 AM~  

Simy querida, que baita confusão menina. Beijocas

Anonymous Anônimo commented at agosto 14, 2006 1:58 PM~  

Curitiba é uma m*, todo mundo fica assim. Já pensou em mudar de tipo de cigarro?

Anonymous Anônimo commented at agosto 14, 2006 2:02 PM~  

Muito bem descrito o estupor.

Anonymous Anônimo commented at agosto 14, 2006 3:54 PM~  

Antigamente, costumava ver pipocos luminosos, parecidos com aqueles fogos de artifício, quando ficava olhando muito tempo para lugar nenhum. Com fundo transparente, claro.

Hoje estou curado.

:)

Blogger anouska commented at agosto 15, 2006 12:59 PM~  

olá, linda. um dia a gente TEM que ir lá juntas, já pensou? e ainda arrasta o edu e o mau. bj

Anonymous Anônimo commented at agosto 15, 2006 4:56 PM~  

Olá, como vai?
Por aqui, tudo indo. Uma preguiça da p*rra, uma moleza na hora de trabalhar... aversão! Queria trabalhar, sim, mas com outras pessoas, outras coisas (na mesma empresa). Mas tirando isso, tudo bem. Clima muito seco e tal. Bichinho meio deprimidozinho... precisava de um emprego, ah como precisava. Mas tô de novo falando de problema, né? Viu quantos se identificaram com o post de ontem? Afe, e lá vou eu segurar a barra do povo. Gosto. Só não sei se consigo resolver. Queria muito resolver. Queria esse poder. Queria a megasena...

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