Outras nádegas

 

segunda-feira, novembro 06, 2006

Verônica

Agora com as tardes mais longas, que eu gosto e gosto muito, eu vejo o sol. Em dias normais, saio pela manhã e ele faz uma força tão grande para sair que eu sinto pena. Durante o dia me protejo. A tela do computador ou a luminária moderna que enfeita a mesa do escritório tentam uma péssima imitação do sol. Mas se começo a te confessar coisas posso parecer interessante demais. De qualquer forma as segundas feiras são todas iguais. Corro para o ponto de ônibus e vejo o tchauzinho do motorista indo longe. Seu gesto habitual. Em pensamento já o chamei de todos os nomes possíveis, só ele não sabe disso. Nunca vi seu rosto direito, só de perfil. É negro, tem um corpo forte e parece me odiar não sei por quê. Talvez por me diferenciar tanto de todas as mocinhas do ônibus. Lotado de operadoras de caixa, vendedoras, garçonetes, com seus diplomas de segundo grau, tipos raros. Agora é hora de enfrentar outra etapa de minha rotina matinal. Verônica está lá. Ela me deixa muito desconfortável. Com sua Bunda. Gostosa. Maiúscula. E seu rosto. Feio. Diminutivo de gente. Fica em uma das esquinas da avenida tentando um programa ou deixar nos passantes a amargura dos lábios ríspidos. Tudo começou um dia desses. Ela caminhava em minha direção e eu imaginava algum carro em perseguição. Me pediu dinheiro para um baseado. Eu respondi, não fumo. Estava com um cigarro na mão. Ela riu gostando da brincadeira, sorri de volta e ofereci a carteira. Fumamos juntas caladas até chegar o próximo ônibus. Todos os dias é assim. Nunca perguntei seu nome, mas a chamo, Verônica. Não consigo definir sua idade. Tem um rosto assustador. Parece uma dessas antigas trabalhadoras de canaviais, e parece uma das mais aplicadas. A gente não conversa. Só pergunto se hoje ela está bem e ela responde que sim, sempre acompanhada do seu sorriso bobo. Está sempre de cabelos molhados. Me consome a dúvida se ela acabou de sair de casa ou se deixou um cliente bem satisfeito. A avenida tem um motel em cada quadra, um bom ponto para programas. Muitos carros caríssimos passando por ali. Liga a capital a uma cidade próxima. Todos indo para seus escritórios. Sentam-se em cadeiras de couro e tomam decisões que interferem nos negócios de Verônica. Além desta sólida ligação existe a saia de couro de Verônica e sua boceta. Ela cobra cinco reais por um bom boquete. Volto para casa entre onze e meia da noite e lá está ela na mesma esquina de sempre. Corro para casa tentando evitar outro encontro. E em outros dias também.


link | posted by Simy at 6:26 PM |


3 Comments:

Anonymous Anônimo commented at novembro 06, 2006 8:55 PM~  

5 reais?? Putz, eeu com esperanças de ainda ficar rico com esse negócio... :-(

Saudade imensa se você, buchechuda!

Blogger Yvonne commented at novembro 08, 2006 10:52 AM~  

Simy, estou bem melhor. Briguei com aquela pessoa especial e tudo melhorou agora. Beijocas

Anonymous Anônimo commented at novembro 10, 2006 6:59 PM~  

Pra você ser única, não precisa fazer a menor força. Nem piscar. Porque você É única - e não naquele sentido "dã" de "todos somos únicos". Você é muito muito muito mais do que alguém que seja "todos".

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