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Arrebitei
Curriculum VitaePra ficar de quatroOutras nádegas
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quinta-feira, julho 27, 2006 Na Berlinda
Simy bom dia mas depois de cento e noventa e nove vem duzentos.
Puta que pariu. Vou fingir que é de propósito já que a moça tava mesmo nervosa não é? Você é só uma mocinha irresponsável de mini saia. Ouço as palmas, cruzo as pernas e me curvo elegantemente. Agradecida pelo prêmio mas devo tudo isso a minha querida mamãe. terça-feira, julho 25, 2006
Cento e noventa e nove, cem. Ia começar mais uma volta no colar. Contar as sementes disfarçava o nervosismo. Tinha colocado três colares de contas no pescoço. Um levemente apertado no pescoço, branquinho e muito elogiado entre as amigas. Outro amparado pelos ossos salientes abaixo do pescoço e o seu predileto, roxo, caído entre os seios pequeninos quase infantis. Vestia uma blusa sem costura aparente, amarrada nas costas, na altura de sua cintura e exibia um lindo e inocente umbigo. Cor de laranja, transparente, um lindo decote em v, contraste perfeito com a comportadíssima saia de seda branca, levíssima, voando a cada nova brisa. Os pés posicionados um a frente do outro calçava sandálias pretas combinando com a bolsinha de verniz que descansava no ombro. Estava nervosa. Havia se pintado o menos possível, antes de sair passou de leve com o dedo um batom cor de cereja nos lábios, fez biquinho satisfeita em frente ao espelho e saiu bela ao sol. Agora se arrepende, talvez estivesse exagerado na maquiagem, tem medo. E como demorava. Eu com tantas ocupações, tantas coisas a se pensar. Olhava de um lado para o outro nervosíssima mas amparada no imenso desejo de tê-lo. Na mão carregava uma sacola de uma disputadíssima grife, causa de muitos dos seus infortúnios. Lembrou-se do casaco na vitrine da butique, não poderia deixar de comprá-lo, ficará perfeito com aquele meu vestido palha. Suspirou de cansaço, quase desistindo do seu objetivo ao ter saído de casa como uma ladra. Mentiu para empregada, deu satisfação ao porteiro e quase fez o sinal da cruz em frente a estátua no hall de entrada do prédio. São Judas Tadeu que me perdoe, é só um busto. De quem mesmo? Deixou pra depois, tinha muitas ocupações. Vivia tentando se explicar, tinha pavor de ser mal interpretada. Se soubessem daquilo então? Ah meu São Judas Tadeu, se benzeu. Era o único santo merecedor de sua devoção. Sempre tão ocupada, quase tudo era impossível realizar. E ainda tinha que resolver o que teriam para o jantar. Era melhor acabar logo com isso. Olhando assim de longe até seria confundida com uma artista. Viu na esquina o motoqueiro virar rápido a rua e se aproximar. Será ele? Pra ela era um desconhecido mas seguia indicação de fonte segura. Ele se aproximou, sabia a descrição da mulher e achou quem procurava. A principio pareceu aturdido com aquela figura que mais parecia uma pintura de algum refinado bom gosto. Como era bonita, e como realmente parecia preocupada em ser vista numa situação tão corriqueira e até normal. Seu rosto revelava um medo genuíno, uma culpa profunda, seu corpo pulsava como se em pecado de luxúria. Ele sorriu agradecido por existirem anjos. Ruborizada, passou rápido o dinheiro escondido na mão e ele participando da louca brincadeira jogou o embrulho no fundo da sacola que ela segurava, tremia mais do que na sua primeira comunhão. Ele lançou para ela um olhar cúmplice e ameaçador. Não fora tão convincente quanto ela mas o entardecer era lindo. Entrou no carro, colocou a sacola no banco do passageiro e por cima uma encharpe escarlate. Estava tudo bem, tudo bem. Óculos escuro, rumou para casa. Trancou-se no escritório de seu marido louco por Vivaldi e Van Gogh. Tirou da sacola o DVD ao vivo e se deliciou com os pulinhos cafonas de Maria Rita. Mais uma vez olhou de lado para o espelho ao lado, se benzeu e disse: "Ah meu São Judas Tadeu!".
quarta-feira, julho 19, 2006
Eu juro, juro por deus e por tudo que você quiser que eu tento. Eu tento muito, me esforço um monte. Pra me interessar por outras coisas, tento pensar em outros assuntos, em outros lugares, em outras pessoas. Tento pensar em erros, em acertos, nos problemas do mundo, do meu vizinho e até da doida da minha colega de trabalho. Eu sento na cama, abraço minhas pernas, descanso minha cabeça nos meus joelhos, fecho os olhos e forço minha cabeça a pensar em algo que realmente me dê impulso, algo que seja realmente importante, algo relevante, que todos queiram saber, que queiram ler, que seja pertinente e faça diferença no meio desse monte de coisa besta que todos batem palmas e eu não consigo perceber. Deve ser algum detalhe, uma vírgula, um verbo, tem alguma coisa ali e eu não percebo. Ando tão agoniada. Feliz, mas impaciente, em rebuliço, estranha, alheia. Não sei. Eu só consigo pensar naquela pessoa e em mim. Não tem nada acontecendo mas parece que cresce, o sentimento se torna um gigante. Pra mim foi sempre igual. Parece que foi sempre assim, que foi sempre grande, que sempre esteve aqui. Eu sei que não era assim, que antes era tudo leve e eu lembro também que eu conseguia pensar em outras coisas que não seja isso, que não seja ele. Eu leio os e-mails antigos, relembro telefonemas, contato, pele. Eu não me esqueço, por exemplo, do primeiro olhar. Parecia uma cena, um telão enorme com um astro me cativando, me adorando como se eu fosse a protagonista, a estrela do baile. E o beijo foi como se um monte de outras beldades tivesse disputado comigo esse momento. Muitos testes mal feitos, tentativas inúteis e eu soberana, sem esforço nenhum ganhei. Parecia mesmo um filme, um conto dos melhores. Se eu te contasse como foi você iria babar e desejar estar no meu lugar. E nesse meio, nessa quantidade enorme de lembranças tento voltar nas matérias da faculdade, tento ler os clássicos, os gigantes da área que eu escolhi, tento me interessar pelas notícias econômicas, achar os professores realmente bons, tento sugar alguma coisa deles, mas nada. Eu acho tudo idiota, chato, monótono, igual. Aí eu começo a bater o queixo nos meus joelhos num ritmo lento. Mas eu só penso. Naquilo. Naquele. Nem sei. Eu deito com a cabeça virada para o travesseiro e balanço rápido de um lado para o outro até não conseguir respirar e ter que me virar e encher meus pulmões de oxigênio. Dói tanto, tanto, você não imagina. A saudade sabe. E às vezes dá muita raiva também. A maioria das pessoas esmaga dentro delas aquela parte que faz a vida se tornar uma fantasia. Acho que essa parte cresceu demais em mim. Por exemplo, paro, assim de repente e penso qual o motivo de eu gostar tanto de advérbios. Você não me conhece, mas saberia que falo a verdade. Pessoas que falam muito dessas palavras são chatas e repetitivas. O que eu mais falo é extremamente. Extremamente isso, extremamente aquilo. Fico enjoada de mim mesma quando não consigo parar. Você não sabe mas se te conheci um dia fiquei repetindo na minha cabeça, não fale, não fale, não fale. Isso me cansa tanto, me deixa tão ocupada enquanto tento manter um assunto interessante, buscar coisas que ouvi no rádio, mostrar que sou uma pessoa antenada, politizada, sensata e bela. Tento falar baixinho, mas é tão difícil porque se não sou interessante tenho que gritar pra você me ouvir no meio de tanta gente "legal". Eu estou tentando com todas as minhas forças chegar ao presente, passar por tudo isso e perceber com alivio que agora é hoje e que só vou pensar no que tenho pra viver, aí talvez consiga pensar amanhã.
E na minha estante... domingo, julho 16, 2006 Sexta Feira
Você chega em casa, sexta feira, chata, cansada, MALDITA DOR DE CABEÇA, raiva de uns, decepcionada com outros... Assim sabe, cheia de vontade de cama. Computador argh! Internet, bah! Suas costas está repleta de redemoinhos. Já sentiu dessa? Chama-se tensão. Me contaram. Seus pés mal tocam o chão. Olha pro salto, finge surpresa e pensa: Oh deus como consegui me manter sobre isso um dia inteiro? Bobinha. Você deita na cama suspira relaxa e respira. A mudança você lê agora. Você é jovem e hoje é sexta feira. Você é jovem e hoje é sexta feira... Você não imagina o efeito que isso causa. Passa tudo de repente. Dor, cansaço, raiva, decepção. Ufa! Passou. Não tão rápido mocinha... Você acende um cigarro pensando e se enganando que assim, sim é sim, assim tudo é um tiquinho mais interessante. Dura pouco. Acho que o tempo de acabar. Você vira pra você: Outro? E com um ar de enfado despreza a oferta com um gesto de mão. Um livro quem sabe. Você adora ler. É, pode ser. "Há muito tempo a tesoura cortou o cordão umbilical que me unia à minha mãe. Agora ela não me alimenta mais – eu sim tenho de procurar meu leite..." Ah Dona Autora, me desculpe mas... Você sabe né, eu sou jovem e hoje... Já sei, já sei. Vamos tentar mais um pouquinho? Um tiquinho assim. Que tal o jornal? Ah claro, o jornal. Hum... Esse jornal. Tá muito vermelho esse jornal, me cansa, embriaga minha visão, me entorpece, ai. E na parte Política riem de mim, o tempo inteiro riem e eu nem fico vermelha de vergonha e me fazem trair minha própria ingenuidade. Na Economia não tenho grana pra pagar. Desisto. Música! Grito eufórica. E claro, na hora o dedinho sobe. De novo. Imagine agora hein. Música! "Preciso rever seu sorriso um tanto sem graça, preciso voltar, mais uma vez com você lá na praça..." Ahhhhhhhhhhhhh, não. Em Curitiba tem milhares de praças, garanhões por todos os lados, tipos altos e de olhos azuis. Deixe ver... E faço uma maldade. Hum... Esse é campeão de peteca, os amigos vivem fazendo piadinhas com seus títulos nessa categoria, ah não, esse não. Safado, maconheiro, velho, play boy... Filhinho de papai e fica insistindo em ir para um drive in, tô sem saco pra ficar recusando e vai que eu aceito, que perigo. Dar uma de castiçal? Porque ela sempre liga lá pelas nove da noite dando uma opção de saída, mas aquele namorado dela, hum... E estou sem saco pra separar brigas e convencê-lo de que namoradas podem sim usar micro saias. Jogo a agenda pro lado. Hoje tô sacuda pô. Quer saber? Vou dar uma olhada nos Dvds, vai que esqueço essa agonia. As Branquelas? Meus irmãos alugaram As Branquelas? Filhos da mãe viu. E o cadastro tá no meu nome merda, tô pagando por essas coisinhas. Ah vai que dou algumas gargalhadas né, e talvez apareça alguma bunda de mulher bem feia e me faça ficar hiper feliz com a minha. Tá, coloco. E durmo assistindo isso...
Mesmo que seja sexta feira, 19 anos, cheia de vontade e gostosa a noite termina assim, assim... quarta-feira, julho 12, 2006 Eu disse...
Quando você era criança e ganhava uma caixa de lápis de cor e tinha três cores muito parecidas. O rosa, o vermelho e um vermelho bem mais escuro. Esse é o bonina.
terça-feira, julho 11, 2006
Ele fez o único post que eu li sobre o fim da novela das oito.
Alienação geral. A gente é ou não é brasileiro? Gostei do fim, gostei do post.
Ele disse...
Saudade dessa sua inteligência nervosa. Eu amei... sábado, julho 08, 2006 Tudo solto...
"Porque homem é sempre bonito" mesmo que gordo, mesmo que use roupas surradas ou tenha um tremendo mal gosto, mesmo que chato ou machista. Homem é sempre bonito. Tenho vontade de ficar repetindo, repetindo, repetindo. Poucas vezes li frases tão bonitas. Essa é uma linda frase. Consigo acreditar nela com todas as minhas forças. Cada palavra é sincera e verdadeira. Homem é sempre bonito. E eu também acho lindo homem que diz amor com toda a naturalidade. Daqueles que só em dizer "oi amor" cresce aquele quentinho por dentro. Como aquela também "ele me diz cada coisa incrível de boa". Frase aconchegante. Tenho vontade de falar pra alguém, por isso escrevo aqui. Queria que fosse uma marca pessoal. Você mesmo não conhece uma daquelas pessoas em que numa reunião quando ela abre aquele sorriso todos os amigos íntimos já sabem, "ela vai dizer aquilo", não tem? Aposto que tem. Pode discordar. Todos podem. Não importa. É a preferida. Na minha cabeça discordam sempre. Nas férias brinco de discordar. Chego em casa depois do trabalho, tomo um banho. Não é um banho longo. Já passou o tempo em que um poeta viveria isso pra contar. Agora nem viver nem contar. Olha o mal exemplo. A água do mundo vai acabar. Sem o que é poético, mas o que é real. Será que daqui pra frente as poesias serão sempre moralistas? Não me deixe dar importância a esses detalhes, pode ficar longo demais. Como quando o mundo não parece material. Já teve essa sensação? É quando tenho medo da morte ou simplesmente penso na morte. Nessas horas quanto mais eu penso mais real e natural se torna a possibilidade de existir céu e inferno. Fico deitada na cama em posição fetal e sinto que qualquer coisa que eu tocar será um simples jogo de imagem ou ilusão. Mas aí eu me acalmo pensando que essa sensação faz parte do sonho que estou vivendo. Nunca teve essa sensação? A vida aliada a céu e inferno tem sentido nesses momentos, de outro modo é imaterial e sem sentido. Nesse mundo não somos marionetes de ninguém, naquele sim. Ah claro, então o sentido é esse, temos de ser manipulados. Mas aí me surge a história do livre arbítrio e tudo se mistura, se torna confuso, embola e aí volta tudo ao normal. Chego a dar um tapinha na minha testa e me chamo de bobinha. Ouso tocar em algo e me entusiasmo e toco o quarto inteiro, todas as coisas e me toco e sorrio, sorrio muito. Numa questão de minutos ou horas, não sei, a vida perde e toma sentido, o céu existe e deixa de existir, as coisas se desintegram e voltam à sua forma de sempre. É lindo e engraçado. Queria tanto falar com você isso tudo. Assim de pertinho. Um incenso aceso e você fumando seu cigarro distraído e rindo, e rindo de mim. Mas estava falando de discordar... Eu tomo meu banho e não faço nada de importante. Antes de me vestir eu deito e começo minha longa conferência, com uma platéia enorme e atenta. Estou linda, deslumbrante. Minha roupa não é nem de longe impessoal, pelo contrário, sou inteligente e sexy, todos me veneram, me admiram, me louvam. Nessa conferência contesto tudo e todos. Quebro tabus, me meto em filosofia, em arte, em política. Minha platéia se sente agradecida por abrir tão facilmente seus olhos. Ninguém foge a minha perspicácia. Ás vezes um ou outro se levanta para um desafio, porque antes de mais nada minhas conferências são ultra democratas. Eles se levantam e se sentam convencidos de que tudo é muito simples, minha teoria é aceitável e útil. Se Borges achava que depois de Platão tudo foi reeditado eu desbanco os dois. Eu sou linda, sedutora e convincente. Mudo de assunto assim, num estalar de dedos. E sabe como se pontua minhas conferências? Como se pontua o pensamento. Sem ponto final, excessos de reticências e vírgulas, nada de letras maiúsculas, gritadas e grosseiras. O fim da conferência na verdade é uma pausa, o tempo de um cigarro, um refresco, um sono. O tempo de viver um pouquinho. Mas minha platéia continua lá, gritando meu nome, agradecida. E eu adoro pensar...
quarta-feira, julho 05, 2006
Quadro 1
Nina. Advogada mal sucedida. Chega em casa depois das seis. Coloca o jantar. Vê sua novela. Fala sobre o dia. Tá. Tá. Deita. Lê um pouco. Dá uma trepadinha. Ele ronca. Demora a pegar no sono. Mas antes tem a louça do jantar. Nina quer se separar. Quadro 2 Mônica. Executiva bem sucedida. Chega em casa depois das seis. Dez recados. Ok. Banho. Vestido. Perfume. Linda. Ele chega as oito. Restaurante gostoso. Motel distante da cidade. Não dá pra facilitar. Paixão. Tesão. Gozo. Gozo. Gozo. Deixa na porta do prédio. Banho. Camisola. Travesseiro. Demora a pegar no sono. Mônica quer casar. Quadro 3 Mônica, Nina e Dr. André, o analista. Irão chorar, reclamar do marido/amante. Depois irão querer se suicidar. Se apaixonarão por Dr. André. Ele dirá que elas pensam que o amam. Elas dirão que querem viver feliz para sempre ao seu lado. Ele será paciente e até concordará. Depois de muitas doses de amor próprio ele sutilmente fará com que deixem de amá-lo. Elas sairão, verão o sol. Nina se apaixonará pelo pipoqueiro da esquina. Mônica se casará com um jovem másculo esportista. E Dr. André vai rir escondido das ironias da vida. Ah, claro, a esposa de Dr. André vai procurar um analista... |
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